Petrópolis encerrou a programação do Natal Imperial com a apresentação do grupo de Folia de Reis Três Reis Magos do Oriente. Depois da performance no Palácio de Cristal no domingo (05/01), os foliões saíram à Praça Dom Pedro nesta segunda-feira, Dia de Reis, passando antes pelo Centro de Cultura Raul de Leoni, onde foi reeditada a tradição de o grupo entrar nas casas para louvar o nascimento de Jesus e ser recepcionado com um lanche ou refeição, para ganhar a energia necessária para seguir em frente, de casa em casa.
Nos lugares onde a tradição é forte, é comum os grupos saírem de casa na noite de Natal e só retornarem após a festa de encerramento no Dia de Reis, como conta Manoel Domingos Santos, que aos 88 anos ainda comanda a folia como o mestre do grupo. Ele, que foi peão de rodeio e trabalhou em circo, conta que na época do Natal deixava todas as tarefas para cumprir sua obrigação como devoto dos Reis Magos. “Recebi a obrigação do meu pai, que recebeu do meu avô, e me sinto muito feliz, é uma honra”, ele afirma.
Mestre Manoel aprovou a nova experiência de trazer a folia para o centro da cidade. “No Palácio de Cristal nós nos apresentamos para um público que conhecia a tradição e para outro que não conhecia. Eu me sinto muito feliz, porque é importante mostrar a Folia para que todos conheçam.”
Resgatando a tradição
Para o presidente da Fundação de Cultura e Turismo, Juvenil Santos, a importância do evento está em ajudar a manter e resgatar a tradição de se comemorar o Dia de Reis. “O evento é simples, mas tem uma importância enorme. É uma tradição forte que anda se perdendo em muitos lugares, como Petrópolis. Por isso, é necessário que os poderes públicos se preocupem e prestigiem os que a mantêm viva.”
Ele conta que no próximo ano outros grupos estão previstos. “Vários se apresentaram à Fundação depois do anúncio deste evento. Esse resgate é nossa função, assim como o fortalecimento de outras tradições que também estão se perdendo”, completou.
O encontro com moradores
Para o público que assistiu à Folia, foi uma surpresa. Algumas pessoas, como a empresária Eva Maria Marques, que viaja a trabalho pelas cidades do interior do estado, estão acostumadas a ver locais onde a tradição ainda é forte. “Em Vassouras, Três Rios, Paraíba do Sul e outros locais eu sempre vi. Em Petrópolis, só em alguns bairros, mas no Centro, nunca. O povo perdeu aquela coisa do folclore, que é importante manter vivo.” Ela doou de bom grado uma moedinha para o folião que pede ajuda, em nome do grupo, para prover alimentação. “Dá sorte para o ano todo”, disse Eva.
Para as três irmãs Nunes, Maria, Malvina e Nadir, com idades entre 73 e 80 anos, foi a surpresa que as levou de volta ao passado, quando encontraram o grupo na praça Dom Pedro: “Quando eu era criança, a gente ficava doida para chegar a Folia de Reis” recorda Maria. “Havia muitos grupos em Itaipava, batiam nas casas de dia, de noite de madrugada, era lindo”. Elas destacaram algumas diferenças entre o grupo atual e os do passado, como os dançarinos mascarados que, na versão do “Três Reis Magos do Oriente” representam o cortejo dos seguidores de Herodes.
Célia Regina, de 50 anos, operária de fábrica e dona de bufê de festas nos fins de semana foi outra a contribuir com uma moedinha para a folia. “Eu acredito que dá sorte, sempre fiz isso e sempre deu certo, graças a Deus!”. Ela conta que faz sua oração diante da bandeira, fazendo seus pedidos a Deus. “Estou pedindo axé para nós, muita paz, muita saúde. Toda tradição que vem dos antigos, como esta, traz muita força, muita coisa boa”, aposta.